Entrevista feita a Alexandre Vogler para o painel “Ações Independentes/Novas iniciativas nas artes visuais” por Gloria Ferreira

 

  1. Atitudes e proposições de artistas não são uma novidade em nosso circuito de arte. Anos 60 – grupo REX, em São Paulo, para citar um exemplo. Anos 70, revista Malasartes, Rio e São Paulo. Quais são as diferenças entre as atitudes  contemporâneas e as de outras épocas. Há realmente diferenças, ou o circuito permanece praticamente inalterado, exigindo sempre a reposição de ações similares?

A forma com que estas estratégias de produção independente de arte são geradas respeita um vinculo muito baseado nas trocas, nos afetos e na valorização das relações humanas em detrimento da organização profissional das relações de trabalho.

Não saberia dizer se há ou não diferenças além do fato de produzirmos em duas épocas diferentes, sobretudo porque o processo de historização desses movimentos não é uma prioridade para quem os faz. Acredito que a urgência com que são produzidos torna-os precisamente necessários àquela época – independente de preencher lacuna alguma

  1. O que caracteriza as iniciativas de artistas em relação às iniciativas institucionais, ou de pessoas ligadas ao sistema, mas não artistas? Existe uma particularidade nessa atuação?

Prefiro acreditar que esta diferença se estabeleça individualmente, de pessoa pra pessoa e não nessa polarização independente/institucional. Existem profissionais competentes em ambos os lados. Naturalmente que a forma independente de se trabalhar com orçamento deficiente seria uma diferença se as instituições não passassem atualmente pelo mesmo problema. Tavez os independentes sejam mais sinceros quanto a isso.

  1. Por que a necessidade de ampliar sua atuação no circuito de arte e, além de artista, transformar-se em um agente propositor de ações coletivas?

O que faço contempla bem pouco a questão autoral do trabalho de arte. Meu trabalho poderia ser feito por outra pessoa e vice-versa sem prejuízo das partes. Se alguém precisa organizar isso (atuar como agente propositor de ações coletivas) eu me voluntarizo.

  1. Sobre o artista como curador, ou o grupo que organiza exposições e convida outros artistas. O que se espera, o que se pensa. Qual a diferença entre estas curadorias e as realizadas pelos curadores profissionais? Há intenção de criar novas leituras, ou a função é apenas a de movimentar parte da produção artística sem depender de instâncias de poder.

Talvez a questão do afeto esteja latente na produção independente mais que nas curadorias institucionais.

  1. O poder. Ao propor alternativas ao circuito de arte tradicional, mais do que questionar esse circuito, algumas iniciativas acabam adquirindo também grande responsabilidade dentro desse circuit, tornando-se por vezes propostas necessárias. Há a noção do compromisso e da responsabilidade que se adquirem. O que acontece quando algumas propostas acabam? Seu fim não poderia ser tão grave quanto o fim de uma instituição?

Não penso em contribuir com o circuito estabelecido. Penso, sim, em criar um outro. Produzir em outros meios (cinema, tv, publicação e outras inserções midiáticas) me interessa mais que salvar o formato institucional de exposição. Quando a proposta acabar, acabou, vira história e aí sim nesse momento passa a contemplar o circuito tradicional (até com muito gosto…)

  1. De que forma as iniciativas propostas dialogam com seu trabalho artístico?

Naturalmente a forma como vou expor meu trabalho, o circuito em que será inserido e as condições para que isso ocorra são dados tão fundamentais de meu trabalho quanto a linguagem empregada. Assim, a forma como agencio outros trabalhos (e sua influência recíproca) nos traz para perto de certas questões que vão se assumir, acredito,  como valores de uma geração

  1. Qual o diálogo, se existe, com as instituições tradicionais?

Não vejo problema nenhum em manter esse diálogo. Na verdade vejo como mais uma forma de inserção do trabalho de arte. Nem melhor nem pior que uma publicação acadêmica, por exemplo. Até porque muitas dessas instituições são geridas pelo dinheiro público de forma que não posso adotar uma postura genérica de rechaço e combate a uma iniciativa da qual sou contribuinte. Volto a insistir, os problemas são individuais

  1. Sobre nosso circuito de arte. Análise (como é ele e como você se vê dentro dele)

O meu circuito eu faço, prefiro pensar assim. Acho que evoluímos nesse sentido. O circuito é pequeno e estrategicamente simples. Não precisa ser genial para adotar novas estratégias de produção, basta um pouco de desapego